Minha família é de Belém. Já estive trocentas vezes na cidade e hoje parto para mais uma visita. Novas atrações surgem a cada ano e hoje eu recomendo fortemente Belém para uma visita. Aviso: a cidade vai te fazer redefinir o que é calor. Prepare-se.
Onde ir
Complexo Feliz Lusitânia
O Centro Cultural Casa das Onze Janelas, Forte do Presépio, Museu de Arte Sacra e a Igreja de Santo Alexandre rodeiam uma praça, no marco zero da cidade. Há um bondinho para fazer o circuito turístico da área antiga que eu ainda não conheço. Ou seja, tudo para fazer um turista feliz.
Casa do Romeiro
Existe um museu do Círio em Belém, localizado no Complexo Feliz Lusitânia, mas acho a Casa do Romeiro mais roots. O Círio de Nazaré é considerada a maior festa católica do mundo. A cidade fica tomada por romeiros, que vêm à pé desde o interior do Pará para agradecer ou fazer promessas à Virgem de Nazaré. No fim da jornada, o estado destas pessoas é tão deplorável que muitos belenenses (como a minha tia) fazem a promessa de distribuir água aos promesseiros, durante a jornada ou na procissão do Círio. A Casa do Romeiro é um abrigo social para estas pessoas, que muitas vezes não têm como pagar por hospedagem no dia da maior festa popular da cidade. Alguns paineis e objetos contam a estória do Círio de Nazaré. Localizado dentro de um parque de diversões (!), ao lado da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
Um pouco afastado do centro, às margens do rio Guamá, o Mangal das Garças é um parque bem cuidado com espécies da região e atrações como um viveiro de pássaros, borboletário e um farol/mirante. A entrada no parque é gratuita e você pode comprar um ingresso para todas as atrações por R$ 6,00.
Ver-o-peso
Chega-se a mim, chora nos meus pés, pega e não me larga, queira ou não queira vai ter que querer. Estas são algumas das utilitárias poções mágicas preparadas com ervas da Amazônia que você encontra no Ver-o-peso, vendidas por senhoras que passam certificado de garantia de sua eficácia (eu não estou brincando. Uma me deu o seu telefone para eu reclamar, caso eu não lograsse êxito nos meus objetivos amorosos). O maior símbolo de Belém tem esse nome porque era um entreposto fical onde o peso e quantidade das mecadorias era averiguado, de modo que os impostos para a Coroa Portuguesa fossem devidamente recolhidos. Hoje em dia é sinônimo de um gigantesco mercado de peixes, carnes, frutas, ervas, roupas, artesanatos, cds piratas de tecnobrega. E perfumes para atrair o sexo oposto, é claro.
Este museu zoobotânico da Amazônia é um clássico para levar as crianças aos domingos. Pense num zoológico. Tem tempo que não vou e ouvi dizer que está bem acabado. É ao redor dele que eu corro quando estou na cidade.
Praças
Belém tem um sem-número de praças e espaços ao ar livre super agradáveis. A Praça da República (Av. Presidente Vargas, 790) foi assentada sobre um cemitério e hoje é o endereço do Theatro da Paz e de uma concorrida ferinha de artesanato aos domingos (chegue cedo. depois do meio-dia fica insuportável de lotado e bagunçado). A Batista Campos é um dos endereços mais tradicionais da cidade e está sempre cheia à noite. O Ver-o-Rio, mais recente, já é um pouco mais longe da área residencial, mas tem a vantagem de ser à beira-baía. Destaque para a rampa da Pan-Am, de onde partiam os hidroaviões.
Polo Joalheiro (São José Liberto)
Uma amiga já me disse “você vai tanto lá que os seguranças devem achar que você está planejando assaltar as lojas”. O antigo presídio foi reformado para abrigar joalherias e quiosques de artesanato. Um cristal gi-gan-tes-co se encarrega de limpar as energias negativas do lugar. Jóias para todos os gostos (com destaque para motivos amazônicos) e com um excelente preço. Da série: tá querendo fazer uma média com a sogra?
Onde ficar
Como fico em casa de família não posso ajudar neste aspecto. O melhor hotel da cidade é o Crowne Plaza, construído há alguns anos para ameaçar a hegemonia do Hilton que, por sua vez, tem uma excelente localização (em frente à Praça da República, in a walking distance dos principais locais de interesse turístico da cidade). Em localizações não tão privilegiadas há ainda o Formule 1 (perto da rodoviária e da saída da cidade, mas não longe do centro) e o Hotel Regente. A cidade conta ainda com um albergue da juventude, filiado à HI.
O que comer
A gastronomia da amazônia é a mais forte concorrente da peruana no universo foodie nesta última semana (aliás, acabei de lembrar que tem Amazônia no Peru. Perdemos, playboy). Paulo Martins, o chef do Lá em Casa, recepciona constelações Michelin a cada temporada, apresentando ingredientes que você, meu caro amigo do sudeste, nem sonha em ouvir falar: jambu, sapoti, uxi, taperebá, tucupi, jambu, tucumã, tucunaré, bacuri, tucupi – que são combinados em caldos, sorvetes, coberturas, ensopados, sucos, cremes. As esquinas de Belém são tomadas por barracas de tacacá, que também vendem vatapá e caruru. O Círio de Nazaré não estará completo sem uma maniçoba de almoço. Abaixo, a lista dos bares e restaurantes que mais gosto na cidade:
O restaurante mais renomado da cidade ficava em uma casa super agradável e agora só sobrou a filial do Estação das Docas. Pessoalmente, eu acho que gastronomia sofisticada não combina com com praça de alimentação e meu preconceito tem me impedido de voltar lá. Uma grande vantagem de Belém são os preços: um menu degustação do Lá em casa custa uns R$150,00. No jantar. Para duas pessoas.
Cerveja de bacuri. Rodízio de chopp. De frente para a baía. Preciso dizer mais?
Manjar das Garças
Restaurante com vista para a baía, localizado no parque Mangal das Garças. Pratos a la carte, um buffet bem gostoso de especialidades paraneses (em torno de R$50) e um suco de cupuaçu irretocável. Perfeito para encerrar uma manhã no parque..
É uma verdadeira instituição belenense, com lojas espalhada por toda a cidade. Passou em frente à uma Cairu? Entre e tome um sorvete. É isso que Guimarães Rosa quis dizer com “a felicidade se encontra em horinhas de descuido”.
Campeão da Veja-Belém. Localizado dentro da Casa das Onze Janles, centro cultural da área histórica da cidade, tem pratos e petiscos e, principalmente, um ambiente ao ar livre super agradável.
Este restaurante hi-low tem sido bastante comentado nos últimos anos e reza a lenda que Adriá passou duas hora na fila para conseguir comer lá. Fora do circuito turístico, numa casa de vila no tranquilo bairro do Marco, o Remanso tem garçon vestidos de garçon e toalha vermelha de popeline nas mesas (adoro). Ao mesmo tempo, a carta de bebidas tem vinhos recomendados por Robert Parker. O item mais pedido do cardápio é a moqueca paraense, muito mais leve que a baiana por ser feita com tucupi. A conta é uma agradável surpresa – quando fui lá, um almoço para duas pessoas com vinho e sobremesa não custou R$ 100,00.
Ver-o-peso
Se o Remanso é hi-low, o Ver-o-Peso é low all the way. A reforma das barracas já venceu faz tempo, o calor é insuportável, a trilha sonora é brega, numa caixa de som de quinta categoria. Sair da área de artesanato do Ver-o-peso e ir comer nos quiosques é para pessoas com um espírito mezzo Anthony Bourdain, mezzo Andew Zimmern. Eu faço questão de almoçar lá toda vez que visito Belém (“mãe, tá reclamando porque viu uma barata no chão?“).