Eu já estava a caminho do Elevador Larcerda quando meu celular toca às 10h e o sotaque baiano do Pedro, meu amigo do trabalho, interrompe a viagem. Havíamos combinado de fotografar o Pelourinho de manhã mas meu lado carioca não acreditou muito não. Me juntei ao Pedro e ao Graciano, também possuidores de uma Canon EOS 350 e saímos a fotografar o Pelourinho, que, aliás, merecia ganhar uns toldos, árvores ou o que o valha para proteger a turistada do sol.
A Karla se juntou à nós e visitamos o convento da Ordem Terceira do Carmo. Acho um absurdo pagar para visitar uma igreja, porém mais absurdo ainda é ser coagido a uma receber explicação de um guia sem pedir e depois ter que pagar por ela. Descemos ao Solar do Unhão, ex-engenho de açúcar e espaço multicultural onde funciona um excelente restaurante, o MAM de Salvador e havia uma exposição do Carybé. Pegamos um táxi de volta ao Mercado Modelo, onde tentei achar, sem sucesso, um chaveiro de patuás. A fome apertou e fomos em direção ao famoso restaurante do Senac, elogiadíssimo por todo mundo que vai lá. Chegamos 10 minutos depois do restaurante fechar pro almoço.
Matamos a fome com um belo acarajé da Sueli, no Terreiro de Jesus, pracinha que me lembrou a Plaza Mayor de Cusco: uma igreja em cada extremidade, um chafariz no meio e vendedores de tudo que é coisa perambulando. O acarajé foi delicioso e o papo com a Sueli, baiana de Valença e filha de Nana, idem.
Toda a conversa sobre orixás nos levou a combinar o preço do táxi com o Teixeira, outra simpatia de baiano, para conhecer o Dique do Tororó, lagoa localizada no centro na cidade, ao lado do estádio da Fonte Nova e lar para uma série de escultura dos principais orixás do candomblé. Já era fim de tarde e a luz dourada do sol banhava as esculturas de bronze de uma forma magnífica. Lembrava de ver os orixás na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, mas não lembrava de como eles eram imponentes. E muito mais em casa nessa terra tão cheia de sincretismo religioso que é a Bahia. Alugamos um pedalinho para ficar mais perto das esculturas, larguei o dedo na Canon e voltei ao Pelourinho com uma dúvida: será que esse é o Tororó da música?
Depois de um dia tão corrido, tomei um banho e me deitei na rede com o Vargas Llosa e suas “Travessuras da Menina Má” para descansar um pouco. Mais tarde, me juntei a um grupo de cariocas para irmos no Ile Aye, associação cultural para preservar e difundir a cultura afro-braisleira – ou em bom português, pra bater um tamborzão no carnaval da Bahia. Esse foi primeiro ensaio do bloco do ano e, quando o táxi nos levou à sede do grupo, na Ladeira do Curuzu, a comparação foi inevitável para um bando de cariocas: “isso aqui é igual a um ensaio de escola de samba”.
No ensaio, baianos e baianas negros, lindíssimos, bem vestidos e arrasando ao dançar. Alguns gringos (aliás, no meu terceiro dia aqui já começo a recnhecer os gringos) e nós, amarradões. Fomos embora pouco depois da uma da manhã, porque amanhã é domingo, dia de missa.